Minhas excentricidades

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Alice


A Lagarta e Alice olharam-se uma para outra por algum tempo em silêncio: por fim, a Lagarta tirou o narguile da boca, e dirigiu-se à menina com uma voz lânguida, sonolenta.

"Quem é você?", perguntou a Lagarta.
Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: "Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento - pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.
"O que você quer dizer com isso?", perguntou a Lagarta severamente. "Explique-se!"
"Eu não posso explicar-me, eu receio, Senhora", respondeu Alice, "porque eu não sou eu mesma, vê?"
"Eu não vejo", retomou a Lagarta.
"Eu receio que não posso colocar isso mais claramente", Alice replicou bem polidamente, "porque eu mesma não consigo entender, para começo de conversa, e ter tantos tamanhos diferentes em um dia é muito confuso."
"Não é", discordou a Lagarta.
"Bem, talvez você não ache isso ainda", Alice afirmou, "mas quando você transformar-se em uma crisálida - você irá algum dia, sabe - e então depois disso em uma borboleta, eu acredito que você irá sentir-se um pouco estranha, não irá?"
"Nem um pouco", disse a Lagarta.
"Bem, talvez seus sentimentos possam ser diferentes", finalizou Alice, "tudo o que eu sei é: é muito estranho para mim.
"Você!", disse a Lagarta desdenhosamente. "Quem é você?"
O que as trouxe novamente para o início da conversação. Alice sentia-se um pouco irritada com a Lagarta fazendo tão pequenas observações e , empertigando-se, disse bem gravemente:"Eu acho que você deveria me dizer quem você é primeiro."
"Por quê?", perguntou a Lagarta.
Aqui estava outra questão enigmática, e, como Alice não conseguia pensar nenhuma boa razão, e a Lagarta parecia estar muito chateada, a menina despediu-se.
"Volte", a Lagarta chamou por ela. "Eu tenho algo importante para dizer!"
Isso soava promissor, certamente. Alice virou-se e voltou.
"Mantenha a calma", disse a Lagarta.
"Isso é tudo?", retrucou Alice,engolindo sua raiva o quanto pôde.
"Não", respondeu a Lagarta.
Alice pensou que poderia muito bem esperar, já que não tinha nada para fazer, e talvez no fim das contas ela poderia dizer algo que valesse a pena. Por alguns minutos a Lagarta soltou baforadas do seu cachimbo sem falar; afinal, ela descruzou os braços, tirou o narguile da boca novamente e disse: "Então você
acha que mudou, não é?"
"Temo que sim, Senhora", respondeu Alice. (...)

Alice no País das Maravilhas



Muitos sabem que desenvolvi certa paixão por Alice no país das maravilhas, graças ao meu filhote Bruna... Bom, a cada dia que passa me identifico mais com o filme... eu me sinto a Alice... perdida... encantada... correndo atrás de um objetivo irreal... que eu ainda nem sei qual é... 

Ultimamente ando me questionando tanto sobre quem sou eu... Sentindo uma necessidade incomum d eme conhecer... Isso gera uma angústia, um desconforto sem fim... Tão complexo tentar me encontrar ou re-encontrar... Sempre me foi muito caro o conceito de quem sou eu... Ou o que sou eu... Eu sei o que eu quero ser, mas para definitivamente alcançar esse objetivo, necessito saber quem sou eu... Talvez seja uma busca incessante, mas o necessito... Desde ontem há uma inquietação em mim, que não me permite pensar em outra coisa... Eu quero ser eu mesma... Embora eu alegue ser autentica demais, sinto que estou sendo sufocada por expectativas de pessoas que eu conheço e de pessoas que eu não conheço... 

Hoje relembrei tantas coisas que fizeram de mim eu mesma... Fatos importantes de minha vida que já nem me recordava... Por vezes queria ter a capacidade de esquecer algumas coisas, mas daí lembro que foram elas que forjaram o meu caráter, a minha alegria, a minha simplicidade de tentar ser apenas eu mesma, mesmo que nem eu o sabia ao fim... 

Creio que eu esteja me cobrando demais... Talvez eu deva descansar um pouco de mim mesma... Retomar algumas leituras, sair apenas para beber um suco, regressar às minhas origens... Talvez eu deva voltar a ser apenas a menina goianinha que aprecia uma boa moda de viola, andar descalça pela casa, que não gosta muito de saias e vestidos, odeia a cor rosa, ama ser uma moleca... Talvez eu deva me recordar da minha avó... Ser simples sempre, acolhedora, carinhosa... Creio ter muito dela... Gosto de ter meus amigos sempre perto... Cozinhar... Conversar... Rir... Embora o meu riso já não seja tão alegre ultimamente... Talvez eu deva pensar menos... Analisar menos... 

Enfim, ao me questionar quem sou eu, acabo me deparando com a resposta da Alice... Realmente não sei, também já mudei tantas vezes desde a última vez em que me questionei...

Exótica e sempre imperfeita...

Um comentário:

  1. "Tu? Quem és tu?" Somos aquilo que já não somos mais, porque somos a própria mudança. O Universo todo é só mudança! O Dalai Lama já disse que "o estático é ilusório." Aquilo que era há meio segundo atrás já não é mais. E nunca mais vai voltar!

    O segredo reside em observar aonde esta mudança constante te leva. Se você não é destino, então seja caminho!

    Quando algo vibra com velocidade suficiente, surge a impressão de que está parado. Mas nada fica parado, nunca! Essa mesa sobre a qual descansa seu computador é composta de átomos que não repousam por um único instante sequer!

    Quando a Lagarta te perguntar "Quem és tu?", responda simplesmente "eu estou".

    Um abraço enorme.

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