Minhas excentricidades

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Espelho

Eu me vi diante de um espelho
Mas não enxergava a minha face
Visualizava apenas minhas costas nuas
Representavam o meu passado
Descoberto, cheio de cicatrizes
Comprida, lisa, firme, quase bonita
Meus olhos apareciam por vezes
Reflexos enevoados
Medo diria
De abandonar passado tão conhecido
E enfrentar um futuro inseguro
Continuava enxergando apenas as costas
Sempre nuas, lisas, firmes e compridas
Via-a desde meu pescoço e suas pintas
Até a suave curva de meu quadril
Minhas pernas longas de bailarina
Mas não via meu rosto
Toda a sua angústia
Os medos e, pior ainda,
Não via meus desejos
Estampados em olhos sagazes
Meus olhos, meu nariz, minha boca
Faminta de decisões, de palavras,
De beijos, sobretudo de silêncio
Minha cintura estreita à espera de abraços
De carícias, de verdades, de imoralidades
Meu colo aguardando para te aconchegar
Mas não enxergo minha face
Apenas minhas costas, nuas

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